sexta-feira, 16 de abril de 2010

Tão simples

Pense no afeto como amor, pois é dele que surgimos e é através dele que demonstramos amor. Vivemos em um mundo em que as relações humanas passaram a ser terceiras. A saudade perdeu significado e o afeto contato. Já não nos abraçamos como outrora nossos pais e avós faziam. É tudo muito corrido e cômodo. Fale-se mais por meios, do que contato, mais da vida, de festas, dos outros do que amor. Vivemos de afetos refinados, mais escasso, mais rápido. Os afetos integrais hoje nos empanturam, demonstra amor demais, pra alguns é vergonhoso pra outros isso nem existe. Precisamos da integridade dos afetos, dos sorrisos doados, dos abraços apertados, dos carinhos humanos. Jesus não se refinou por nós, não deu outro na cruz por nós. Foi integral, viveu afetivamente o amor do Pai em nós, amava a todos com igualdade. Jesus não conhecia diferença, não teve afetos refinados, integralizou-se no amor. Perdemos esse afeto, por medo, por injustiças, pelo refinado.
Quantas pedras já lhe atiraram, quantas palavras já machucaram você. Jogam pedras em nós, seguramos as pedras e jogamos novamente, ou nem jogamos. O problema não está na pedra que o outro nos joga, mas, quando seguramos a pedra e ficamos agarrados. Tem gente que recebe uma pedra e fica decorando a vida com ela. A melhor coisa que tem é jogar a pedra fora, não permita que o seu agressor jogue a pedra e você fique com ela na mão. Quantos afetos estragados há dentro de nós, coisas que deveríamos jogar fora e não jogamos.
Os afetos passaram à precariedade humana, sentimos mais ódio que amor. É mais facil dizer não gosto daquela pessoa a dizer prazer em conhecê-la. É por isso a integridade do afeto, devemos ser o que realmente somos e não se vestir de máscaras para um enfeite mundano. No baile de máscaras, não podemos nos apaixonar, pois não conhecemos os outros. Elas caem, precisam cair.
Por isso em meio ao sofrimento procuramos dentro do nosso afeto respostas fáceis, respostas refinadas, mas temos que aceitar as respostas integrais. Muitas vezes preferimos os afetos refinados, aos integrais; pois os integrais dão trabalho para serem aceitos, exigi de nós muito mais estrutura, muito mais trabalho e organização. Sofremos com nossos afetos, por que não sabemos articula-los. É mais facil odiar a amar.
A experiência do desligamento, tem que ser tão linda, como o primeiro encontro.
Devemos viver dos encontros, de bons encontros, de verdadeiros sorrisos e de aconchegantes abraços. Se nos machucamos, é por que esperamos do outro, algo muito elevado. A espera é dolorosa, leva tempo, se não, não seria espera. Deixemos o refinado lado da vida para as coisas ruins. Sejamos integrais, no amor, na partilha e no afeto.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Cartas entre Amigos: Sobre Ganhar e Perder


As indagações do mundo real e a da própria vida diária levaram os amigos Gabriel Chalita e padre Fábio de Melo a se corresponderem por um meio quase esquecido em tempos de e-mails: as cartas escritas à mão!

Dessa troca, desse diálogo entre os amigos, surgem de maneira quase iluminadora, respostas para muitas questões que a sociedade ainda espera.
Das reflexões individuais de cada autor nascem as afinidades intelectuais de duas mentes motivadas e envolvidas com nosso tempo, e que trazem ao leitor referências - de textos escritos em outras épocas - que podem ser citadas em qualquer situação do mundo contemporâneo em que vivemos.
Em Cartas entre Amigos: Sobre Ganhar e Perder, de Gabriel Chalita e Fábio de Melo, Machado de Assis, Castro Alves, Guilherme de Almeida, Graciliano Ramos, entre outros escritores, dialogam com as inquietações dos autores e mostram análises confortantes, que aliviam a aparente desesperança de viver no século 21. Já as citações de autoras em plena produção literária, como Adélia Prado e Nélida Piñon, permeiam o livro nos dando a sensação de ser "entendido" por alguém.
Na carta inaugural do livro, Gabriel Chalita lembra como o conhecimento nasce da experiência pessoal, mas cresce pelo convívio e pelo respeito pelo outro. E ensina como a espera e a esperança dão significado à experiência e ao conhecimento, como por exemplo, na frase "esperar é reconhecer-se incompleto".
O livro demonstra que a esperança é por uma humanidade mais fraterna. Porque o mundo contemporâneo impõe "o desafio diuturno de não desistir da pessoa humana". E essas cartas nasceram da aceitação desse desafio, de reinaugurar um futuro com mais solidariedade, empatia, compaixão, respeito e alegria.
Para Fábio de Melo as páginas deste livro são páginas de preservação, um verdadeiro "celeiro de palavras geradoras", já que ambos autores preservam vivas passagens da própria vida para compor este envolvente livro - destinado a conquistar os corações e as mentes de seus leitores.

No mais, é esperar lançar! Ansioso pra ler!

Aquilo de ser da gente!

Já me permiti demais. Excesso gera gasto, inconscientemente dor. Aquilo de uma vida uma trilha sonora, já não é una. Coletâneas se formaram compactos extinguiram. É preciso “mudar o disco”. Excesso gera gosto, conscientemente lembranças. Gosto da comida, da partida, da saudade, da idade.
Era atenção, de presença não prevenção. É saudade, da luta, da rua, da lua. O céu era mais claro, nos permitia vê-lo. A rotina era agradável, dava gosto repetir, era bom sentir. O que hoje me leva a continuação de sonhos é mutável, não ouço sorrisos, não vejo vozes. Não há sentimentos, traz tormentos, leva lamentos. A paz que outrora tardava a meu lado se generaliza numa acelerada e constante ida. Nada mais.
Espero que não se cansem nem se espalhem. Ainda os vejo, ora em sonhos, ora emoldurados, no pulso, sempre pulsantes. Das fazendas ao carro na calçada. Me acompanham, me recordam, me orgulham, fazem falta. No geral, me completam.